domingo, outubro 05, 2008

À Descoberta de Bali: Cap. III - O choque do Surf

Finalmente todos instalados.... a palavra de ordem era uma só: SURFAR! Para além de todo o cansaço, paciência e sacrificio que a viagem acarreta, ela própria torna-se num "injector" de pica infalível: imagina-te a atravessar o mundo em 48 horas para saberes que vais apanhar altas ondas, melhor... que vais para um dos sítios mais famosos para praticares aquilo mais gostas! Pois é... estavamos assim, a sonhar com as ondas. Para piorar a situação o Fernandinho já tinha ido para àgua surfar um final de tarde em Uluwato numa espécie de surfada-cortesia com o nosso anfitrião João Barbosa. PAUSA. João Barbosa é uma daquelas pessoas que merece pelo menos um parágrafo.

João Barbosa, idade incerta, é (na minha perspectiva) um daqueles eternos aventureiros que vive a vida literalmente no presente e faz questão de tirar partido disso. O carinhosamente aclamado por nós de Capitão Barbosa era o nosso contacto em Bali através do Fernandinho. Acho que nasceu em Lisboa, apaixonou-se por Peniche e por lá viveu até descobrir África, mais propriamente Cabo Verde, onde inevitavelmente se cruzou com o João Guedes (senior) e acabou por viver com o Fernandinho. Já visitou algumas vezes a Indonésia e o seu a vontade em Bali foi peremptório. Arranjou-nos altas instalações a todos com preços de fazer chorar. Com um cabelo comprido de "rabo-de-cavalo" e ao mesmo tempo careca, o Capitão torna-se numa figura dificil de catalogar e dele só se tem a certeza da sua genuinidade. Quando abre a boca as pessoas ouvem sempre à espera de uma frase genial e sábia vinda dos traços da sua cara que devem ter muitas histórias em cima. O João tem um emprego, é fotografo e também escreve. Podem ver na Surf Portugal de Setembro a sua descrição da vitória do Saca ao Kelly. Sem palavras para te descrever Capitão... um grande abraço e um maior obrigado por tudo!


Feitas as apresentações, vamos ao que interessa... 9 de Agosto, 8 da manhã, Uluwato. O Fernandinho já me tinha avisado para o choque que é a vista de Uluwato... Eu proprio tinha uma ideia das revistas e filmes e tava mesmo ansioso para ver ao vivo! Estacionei a mota nas "traseiras" da "praia" e ali no que parece um beco sem saida à umas escadas à direita que se desdobram em mais escadas e escadas.... a vista faz um "V" e imaginem lá o que esta mesmo no meio desse "V"...exactamente: A onda! A primeira visão da onda de Uluwatu foi, e acredito que seja assim com muita gente, um sentimento de alegria-agradecimento-alivio! Não porque a onda seja realmente extraordinaria, mas porque quando vais a descer a escadaria estás a olhar para "Racetracks", o pico de Uluwatu que me pareceu mais regular e uniforme, e que dá a sensação de tarmos a olhar para uma daquelas ondas de filme. Falando assim até parece que a onda não presta, não é isso, só que este foi o primeiro choque em termos de surf que tive: tamos habituados a ver indonésia pelas cameras dos melhores realizadores de surf do mundo com os melhores surfistas do mundo em ondas escolhidas a dedo... ok... se és tu, em Bali, as coisas podem não ser bem assim. Mas já lá vamos. Então lá ia eu a descer as escadas, nervoso por várias razões sendo que uma delas fora o facto de o Nando me ter avisado de macacos que te roubam no caminho (!). Ia com duas pranchas na mão, a olhar para todos os lados... a palavra Tourist e Rookie estava escrita por todos os meus movimentos. Obvio que fui logo assediado por alguns indonecas que mais tarde aprendi que cada um tem o seu negócio. Não me vou adiantar muito em descrever Uluwatu pois tenho em mente um capítulo para cada praia. Vou descrever sim a minha primeira surfada:
Numa coisa não fui apanhado de surpresa - de fora só se via calhau aguçado e coral por baixo de uma leve manta de àgua... eu não sabia que maré estava porque nunca tinha visto aquilo e o Nando só tinha surfado no dia anterior quase no escuro por isso era óbvio que, apesar de bem tentar mandar uns "bitaites", não sabia muito mais que eu. Bem a maré tava quase vaza vim eu depois a saber... o vento estava mesmo muito forte e off-shore e as ondas tavam relativamente pequenas. Posso dizer que me vi aos papeis, mas na altura não liguei muito pois não surfava há mais de duas semanas e tava a surfar numa onda mesmo diferente. Tinha a prancha grande demais para o tamanho por isso só me preocupei em ganhar ritmo de remada, timing de entrada na onda e muito pouco mais, porque também pouco mais conseguia fazer. Mas por mais excitado que eu estivesse tinha de concordar, mesmo na altura, que a onda não parecia nada de especial mas eu ia lá saber que pelo facto de só estarem prai 10 pessoas na àgua significava que aquilo era um dia mesmo mau! De qualquer maneira, fui ganhando confiança e decidi arriscar as maiorezinhas (nao tinham mais de 1 metrinho), e foi nessa mesma altura que comecei a perceber que ali o timing da onda, a maneira como ela quebra e o tipo de remada era completamente diferente daqui! Resultado: Prancha partida na primeira surfada! Pode-se dizer, e rapidamente aprendi, que em Bali não há grandes problemas e quase todos eles têem solução.... então partir pranchas nem sequer é considerado um problema se tiveres dinheiro! E ali tens dinheiro! Imagina o que é saíres da àgua e teres 6 ou 7 Helder's Tropa a trabalharem das 8 Às 18 a arranjar pranchas. Deve ser dos sítios onde arranjam melhor e mais rapido pranchas de surf! Bem... mas tanto express fica caro, mesmo para nós! Lá deixei a minha prancha, que não podia ter tido melhor estreia.
Mas o choque estava instalado... tinha acabado de investir numa viagem de possivelmente mais de 2000 euros para surfar uma onda "nada de especial", em que só conseguia cortar a onda, e mal...ah e ainda parti a prancha! Pelo que vi e senti, ninguem nessa surfada se safou muito bem... mas tudo tinha uma razão de ser! Esta viagem a Bali foi mais uma grande lição de humildade, e quero deixar isso bem patente para quem seguir esta crónica... mas mais pa frente meus amigos! Desculpem o atraso desta crónica meus amigos, mas na quinta há mais....Até lá!

PV



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