sexta-feira, outubro 10, 2008

À Descoberta de Bali: Cap. IV - Reaprender a Surfar

Antes de passar à descrição de todas as ondas que surfei em Bali, quero partilhar - com quem me quiser ouvir - a minha adaptação às ondas balinesas. Acreditem que para um surfista mediano como eu e como a grande maioria do grupo que foi comigo, a adaptação ao surf na indonésia torna-se complicado, inglório e um tanto ou quanto frustrante!
Desilusão.... acho que é este o primeiro pensamento que vem à tona. Acabaste de pagar 1200 euros para atravessar meio mundo em 2 dias, tas preparado pa gastar mais uns 1000 num mês, sempre a pensar que ias encontrar as ondas da tua vida, ias mandar tubões a toda a hora, umas pauladas verticais... bem... não vale a pena! Esquece! Se tas a pensar algum dia em ir para a Indonésia,Bali vá lá porque não tenho a experiência pa falar dos outros sitios, podes ter a certeza que não vais dar um show de surf aos locais.... é precisamente o inverso! Mas já lá vamos... agora quero enunciar quais os aspectos principais que fazem com que Bali te transforme no maior paparuco do século:
Tudo começa na remada...: A primeira grande lição a retirar é que quando remas para uma onda, tens de remar "mesmo" para essa onda, com vontade. Se andas ali como andas cá, a ver quem cai, a remar à ultima e a mandar duas braçadinhas, das duas uma - ou perdes a onda, ou mandas um balde do terceiro andar. Por isso... reaprender a remar, braço bem no fundo, a dar o máximo, mesmo antes da onda tar a tua beira, é fulcral já teres velocidade quando ela chega a ti, porque estas ondas são muito volumosas e passam por ti a 200. Conselho: utiliza uma prancha maior que o normal.
Concentração no drop: Esta parte está obviamente ligada e dependente da remada. Se remaste bem, tens meio caminho andado para fazeres o drop direito... mas atenção não relaxes já porque o drop ainda tem que se lhe diga. Enquanto por cá a maior parte das ondas que surfas empurram-te pa frente quando te vais a pôr em pé, Lá (especialmente em uluwatu) o cenário torna-se diferente... quando te vais a por em pé a onda cava e puxa-te logo para cima e o resultado mais natura é ires de tola sem saberes se vais directo ao coral ou não. Ou seja, entra a 200 na onda e não atrases o drop se não ela vai-te tirar o tapete e vão haver risos no lineup. Mas ok... já tás com os pes na prancha e vês um granda buraco à tua frente: há gente como eu que tem a mania de agarrar o rail à Kelly Slater (tipo eu) pois...mas ali percebes logo que não és o kelly e se não desceres a onda e ganhar velocidade ela vai-te enrolar e mandas uma daquelas à "5 à sec".
O Segredo da Velocidade: Pensa lá quantas ondas aqui não tens que fazer um cut-back logo na primeira manobra. Esquece isso... a não ser que tenhas um motor nas quilhas (mais uns anitos...) só vais estar preocupado em ganhar velocidade. Aqui, o teu jogo de pernas é fundamental mas não suficiente... tens que perceber em que parte da onda consegues ganhar velocidade. Uluwatu não é uma onda super-rapida por isso depois de teres dado umas voltas por outros picos vais notar que consegues surfar muito melhor esta onda; Balangan foi, para mim, das ondas mais curtas que surfei... tive muita dificuldade em conseguir descobrir o sitio certo da onda pa gnahar velocidade... é uma onda muito suspensa, que te prende no topo e que se queres velocidade tens de ir à base, mas invariavelmente a tua onda vai terminar em close out. Impossibles é muito parecido com Balangan mas não te prende tanto, depois de perceberes algumas secções consegues andar algum tempo nela - mas smp a andar pa frente. Ou seja, tem velocidade ou morre a tentar ganha-la!
E por fim, Tomates de Aço: pois inevitavelmente este é um aspecto que tens que ter se realmente queres curtir as ondas à séria. É muito simples: podes ter os outros 3 aspectos que te disse acima e não ter este que nunca vais sentir Bali em pleno mas se tiveres este e nem tanto dos outros arriscas-te a tirar o tubo da tua vida. A questão passa mesmo por aí... não é só remares e dropares a maior do dia (o que não vai acontecer), e nem é tar grande e entrares (embora esse seja o primeiro passo), é quando, estiveres frente a frente com a parede e comçares a vê-la levantar-se demasiado lá à frente meteres pa dentro em vez de acelarares. Mesmo sabendo que provavelmente vais ficar lá dentro e que o teu amparo é o reef de coral, sem esta atitude podes ter a certeza que não vais passar dos chapelinhos. Creio que este foi o ponto que mais me faltou! De todas as coisas uma é certa: se te disseram que foram a Bali e tiraram altos tubos a toda a hora, é simples: tás a ser enganado!
E pronto, estes são os aspectos principais que tens que melhorar para surfares decentemente lá! Posso dizer que tive praticamente uma semana para conseguir fazer uma onda do principio ao fim sem problemas. Mas hoje posso dizer que isso só foi positivo: além de saber que tenho muito por onde evoluir, agora também já sei que existem vários niveis acima de mim (algo que já sabia mas graças a deus tou sempre a acrescentar mais) e só isso permitiu-me subir alguns! É do género "experimentas o mais dificil e vês as coisas bem feitas que quando voltares ao mais fácil já sabes o que fazer". Aconteceu comigo e de certeza com outros.

Daqui vamos partir para o próximo capítulo: Uma breve descrição das ondas que surfei!

Ate lá!

Fotos: 1-Onde é que isto parece rápido? 2-Drop mega concentrado de Francisco P.Basto 3- Ou Toca ou Foge 4 - Fernando opta por dentro, e opta muito bem!

domingo, outubro 05, 2008

À Descoberta de Bali: Cap. III - O choque do Surf

Finalmente todos instalados.... a palavra de ordem era uma só: SURFAR! Para além de todo o cansaço, paciência e sacrificio que a viagem acarreta, ela própria torna-se num "injector" de pica infalível: imagina-te a atravessar o mundo em 48 horas para saberes que vais apanhar altas ondas, melhor... que vais para um dos sítios mais famosos para praticares aquilo mais gostas! Pois é... estavamos assim, a sonhar com as ondas. Para piorar a situação o Fernandinho já tinha ido para àgua surfar um final de tarde em Uluwato numa espécie de surfada-cortesia com o nosso anfitrião João Barbosa. PAUSA. João Barbosa é uma daquelas pessoas que merece pelo menos um parágrafo.

João Barbosa, idade incerta, é (na minha perspectiva) um daqueles eternos aventureiros que vive a vida literalmente no presente e faz questão de tirar partido disso. O carinhosamente aclamado por nós de Capitão Barbosa era o nosso contacto em Bali através do Fernandinho. Acho que nasceu em Lisboa, apaixonou-se por Peniche e por lá viveu até descobrir África, mais propriamente Cabo Verde, onde inevitavelmente se cruzou com o João Guedes (senior) e acabou por viver com o Fernandinho. Já visitou algumas vezes a Indonésia e o seu a vontade em Bali foi peremptório. Arranjou-nos altas instalações a todos com preços de fazer chorar. Com um cabelo comprido de "rabo-de-cavalo" e ao mesmo tempo careca, o Capitão torna-se numa figura dificil de catalogar e dele só se tem a certeza da sua genuinidade. Quando abre a boca as pessoas ouvem sempre à espera de uma frase genial e sábia vinda dos traços da sua cara que devem ter muitas histórias em cima. O João tem um emprego, é fotografo e também escreve. Podem ver na Surf Portugal de Setembro a sua descrição da vitória do Saca ao Kelly. Sem palavras para te descrever Capitão... um grande abraço e um maior obrigado por tudo!


Feitas as apresentações, vamos ao que interessa... 9 de Agosto, 8 da manhã, Uluwato. O Fernandinho já me tinha avisado para o choque que é a vista de Uluwato... Eu proprio tinha uma ideia das revistas e filmes e tava mesmo ansioso para ver ao vivo! Estacionei a mota nas "traseiras" da "praia" e ali no que parece um beco sem saida à umas escadas à direita que se desdobram em mais escadas e escadas.... a vista faz um "V" e imaginem lá o que esta mesmo no meio desse "V"...exactamente: A onda! A primeira visão da onda de Uluwatu foi, e acredito que seja assim com muita gente, um sentimento de alegria-agradecimento-alivio! Não porque a onda seja realmente extraordinaria, mas porque quando vais a descer a escadaria estás a olhar para "Racetracks", o pico de Uluwatu que me pareceu mais regular e uniforme, e que dá a sensação de tarmos a olhar para uma daquelas ondas de filme. Falando assim até parece que a onda não presta, não é isso, só que este foi o primeiro choque em termos de surf que tive: tamos habituados a ver indonésia pelas cameras dos melhores realizadores de surf do mundo com os melhores surfistas do mundo em ondas escolhidas a dedo... ok... se és tu, em Bali, as coisas podem não ser bem assim. Mas já lá vamos. Então lá ia eu a descer as escadas, nervoso por várias razões sendo que uma delas fora o facto de o Nando me ter avisado de macacos que te roubam no caminho (!). Ia com duas pranchas na mão, a olhar para todos os lados... a palavra Tourist e Rookie estava escrita por todos os meus movimentos. Obvio que fui logo assediado por alguns indonecas que mais tarde aprendi que cada um tem o seu negócio. Não me vou adiantar muito em descrever Uluwatu pois tenho em mente um capítulo para cada praia. Vou descrever sim a minha primeira surfada:
Numa coisa não fui apanhado de surpresa - de fora só se via calhau aguçado e coral por baixo de uma leve manta de àgua... eu não sabia que maré estava porque nunca tinha visto aquilo e o Nando só tinha surfado no dia anterior quase no escuro por isso era óbvio que, apesar de bem tentar mandar uns "bitaites", não sabia muito mais que eu. Bem a maré tava quase vaza vim eu depois a saber... o vento estava mesmo muito forte e off-shore e as ondas tavam relativamente pequenas. Posso dizer que me vi aos papeis, mas na altura não liguei muito pois não surfava há mais de duas semanas e tava a surfar numa onda mesmo diferente. Tinha a prancha grande demais para o tamanho por isso só me preocupei em ganhar ritmo de remada, timing de entrada na onda e muito pouco mais, porque também pouco mais conseguia fazer. Mas por mais excitado que eu estivesse tinha de concordar, mesmo na altura, que a onda não parecia nada de especial mas eu ia lá saber que pelo facto de só estarem prai 10 pessoas na àgua significava que aquilo era um dia mesmo mau! De qualquer maneira, fui ganhando confiança e decidi arriscar as maiorezinhas (nao tinham mais de 1 metrinho), e foi nessa mesma altura que comecei a perceber que ali o timing da onda, a maneira como ela quebra e o tipo de remada era completamente diferente daqui! Resultado: Prancha partida na primeira surfada! Pode-se dizer, e rapidamente aprendi, que em Bali não há grandes problemas e quase todos eles têem solução.... então partir pranchas nem sequer é considerado um problema se tiveres dinheiro! E ali tens dinheiro! Imagina o que é saíres da àgua e teres 6 ou 7 Helder's Tropa a trabalharem das 8 Às 18 a arranjar pranchas. Deve ser dos sítios onde arranjam melhor e mais rapido pranchas de surf! Bem... mas tanto express fica caro, mesmo para nós! Lá deixei a minha prancha, que não podia ter tido melhor estreia.
Mas o choque estava instalado... tinha acabado de investir numa viagem de possivelmente mais de 2000 euros para surfar uma onda "nada de especial", em que só conseguia cortar a onda, e mal...ah e ainda parti a prancha! Pelo que vi e senti, ninguem nessa surfada se safou muito bem... mas tudo tinha uma razão de ser! Esta viagem a Bali foi mais uma grande lição de humildade, e quero deixar isso bem patente para quem seguir esta crónica... mas mais pa frente meus amigos! Desculpem o atraso desta crónica meus amigos, mas na quinta há mais....Até lá!

PV